Família, Psicanálise e Sociedade: A sociedade



Vive-se uma época de declínio da função paterna, de um crepúsculo do macho. Em um tempo em que os ideais estão em franca decadência e não se articulam em um discurso formador de laço social, o pai presente na família é demasiadamente desprovido de recursos, estando facilmente privado de suas insígnias simbólicas de o representante da Lei. As transformações presentes na família pós-moderna propiciam o declínio do viril. A presença do personagem paterno não é suficiente para que o Pai Real exista, o que gera conseqüências graves e o aumento da infração entre crianças e adolescentes. Por esse viés, a infração pode ser tomada como um sintoma, como uma forma de responder ao mal-estar que lhe assolapa. Este sintoma-infração é uma “reivindicação de uma lei que regule o sofrimento que daí possa advir” (GOYATÁ, 1999, p.89). 

O aumento da violência e a delinquência infanto-juvenil denunciam uma maneira inusitada de organizar-se na teia social, como uma tentativa do sujeito em ocupar um lugar que lhe foi, de certa forma, negado: o lugar da ordem simbólica instaurada pelo Nome-do-Pai. Estando privado das incidências simbólicas da Lei, esse sujeito vai se fazer valer pelas leis da realidade representadas pelos agentes educacionais, judiciários ou policiais. como sustenta Garcia (1997, p. 41), a violência, por vezes, apresenta-se como a única forma de expressão do sujeito, quando o ato real,sem nenhum tratamento pelo simbólico, substitui a palavra. 

A sociedade brasileira é testemunha dessa amarração “capenga” em torno do Nome-do-Pai: é mendigo sendo queimado nas ruas, escolas sendo “bombardeadas”, aluno matando professor, crianças e adolescentes envolvidas no tráfico de drogas e toda uma gama de sintomas que denunciam a dificuldade de se formar laços sociais. Esse sujeito infrator não se implica no seu delito, não se responsabilizando pelo seu ato infracionário. Isto acontece devido a uma “falta estrutural de resposta no Outro, que solicita do sujeito responsabilidade por suas próprias respostas, fica escamoteada pela falta imaginária desses personagens que o representam [os pais]” (BARROS, 1999,p. 89). 


Cássio Eduardo Soares Miranda - Poeta, professor, psicanalista

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