O TRATAMENTO PSICANALÍTICO
O
que caracteriza o tratamento psicanalítico e o que o diferencia de outras formas
de intervenção psicoterapêutica? Quais são os princípios que norteiam um
tratamento psicanalítico?
Em
“Sobre o início do tratamento”, um artigo publicado em 1913, Freud discute
algumas condições para a condução de uma psicanálise. O curioso é que Freud
apresentou certas condições que para ele serviam de orientação e que, de algum
modo, poderiam servir de condições norteadoras para o tratamento analítico. Mesmo
Freud sendo claro em sustentar que são situações que lhes eram úteis, a Associação
Internacional de Psicanálise as transformou em regras e poderíamos dizer, com Freud,
que tais condições são princípios norteadores de uma prática psicanalítica.
O tratamento de ensaio
Freud
denominou de “tratamento de ensaio” um tempo prévio antes da análise
propriamente dita. Para ele, o tratamento de ensaio tem como meta primordial
ligar o paciente a seu tratamento e ao psicanalista, tendo em vista a
transferência e também ao estabelecimento de um diagnóstico diferencial entre
neurose e psicose. Assim, “o início” do início do tratamento é baseado na
premissa de que a transferência é a mola e o motor do tratamento psicanalítico.
É importante destacar que o tratamento
de ensaio é, ele próprio, o início de uma análise e deve se conformar às suas
regras, especialmente a associação livre.
“Este
experimento preliminar, contudo, é, ele próprio, o início de uma psicanálise e
deve conformar-se às regras desta” (Freud)
A regra fundamental
Hoje,
06 de maio, é aniversário de Sigmund Freud e é também um dia oportuno para
recordar que em 12 de maio de 1889 uma de suas pacientes aceita a interrupção
de uma hipnose para dizer a Freud a origem de seus sintomas, dando início à tão
comentada “cura pela fala”.
Ao
propor tal situação à sua paciente e em seguida passar a utilizar a situação de
maneira generalizada, Freud estabelece, a seu tempo, a regra de ouro da
psicanálise, que é a associação livre. Por
outro lado, Freud conceituou a atenção flutuante do analista como a
contrapartida à associação livre do paciente. Entretanto, destaca-se que o que
rege a atenção flutuante é o desejo do analista.
Um
fato curioso que Freud aponta funciona como uma interrogação e um
posicionamento ético ao mesmo tempo. O que fazer nas situações em que
psicanalista e paciente possuem laços de proximidade? Eis o que Freud nos
apresenta: “ Dificuldades especiais
surgem quando o analista e seu novo paciente, ou suas famílias, acham-se em
termos de amizade ou têm laços sociais um com o outro. O psicanalista chamado a
encarregar-se do tratamento da esposa ou do filho de um amigo deve estar
preparado para que isso lhes custe esta amizade, qualquer que seja o resultado
do tratamento; todavia, terá de fazer o sacrifício, se não puder encontrar um
substituto merecedor de confiança”
Ficamos
por aqui.
Feliz aniversário, Herr Freud!
Para
saber mais um pouco sobre o tema, sugiro a leitura de Freud, S. (1913/2006).
Sobre o início do tratamento. In J. Salomão (Trad.), Obras completas (Vol. 12,
pp. 139-158). Rio de Janeiro: Imago. (Publicado originalmente em 1913).
Cássio Eduardo Soares Miranda - Professor da UFPI, psicanalista e coordenador do Núcleo de Estudos Lacanianos (NEL)
Cássio Eduardo Soares Miranda - Professor da UFPI, psicanalista e coordenador do Núcleo de Estudos Lacanianos (NEL)

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