Caso 1- O fracasso da família
A primeira instituição incluída na pesquisa é uma Escola Municipal que atende alunos do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental, funcionando no turno manhã e tarde. Frequentemente a direção da escola recebe queixas da professora incluída na pesquisa em detrimento das dificuldades de aprendizagem de seus alunos, precisamente na leitura e escrita. A turma envolvida na pesquisa encontra-se no 2° ano e é composta por 26 alunos. Esta instituição oferta, apenas, os anos iniciais do ensino fundamental. Por esse motivo, esta escola não apresenta cálculo do IDEB.
A referida professora está há 10 anos atuando na profissão docente e há 6 anos vinculada à instituição pesquisada. No período de observação das aulas ministradas pela professora, pôde ser visto o desenvolvimento de uma aula na qual os alunos não tinham espaço para participar. As aulas seguiam com a leitura de textos do livro didático e exercício de fixação. Os alunos com maior dificuldade na leitura e escrita não recebiam maior acompanhamento da professora, que por sua vez, já sabia que eles não fariam a atividade exigida por não saber escrever. Quando a turma se demonstrava dispersa da aula, a professora utilizava ameaças e castigos para que os alunos voltassem sua atenção ao texto. Os castigos eram feitos aos alunos mais indisciplinados, onde a professora os deixava de pé em frente ao quadro acrílico por cerca de uma hora. As ameaças que a professora utilizava deixavam os alunos assustados e frequentemente exaltava o tom de voz para atrair a atenção dos alunos.
Durante a entrevista a professora Adriana relata que a dificuldade de seus alunos não seria um “fracasso escolar”, mas um problema derivado da falta de acompanhamento que possibilite o desenvolvimento de habilidades como continuação do trabalho feito em sala de aula. Em razão disso, a professora indica a família como precursora do fracasso escolar. Em suas práticas, a professora relata que no início do ano letivo faz a convocação dos pais, porém, boa parte deles não comparece às reuniões, deixando de se comprometer com a escola e com a educação destas crianças. A professora afirma que se sente desmotivada e que de certa forma o seu trabalho é em vão, pois essas crianças não serão acompanhadas em casa.
Na semana que eu tô bacana... empolgada com eles, a gente faz leitura, a gente faz tudo e eu não consigo me desanimar com aqueles que ainda não conseguem. Só que tem dias que você faz tudo, tenta e ai bate aquela tristeza: Meu Deus eu fiz tudo isso e ainda tá do mesmo jeito! E isso é aquela coisa do ponto que te maltrata. Tu tenta, tenta, tenta. Faz tudo do jeito que é pra ser e não sai do lugar, certas crianças (Profa. Adriana).
A professora vivencia frequentemente um ciclo de desmotivação, ou seja, anima-se em dar novos conteúdos aos alunos e desmotiva-se ao perceber que eles não estão aprendendo. No primeiro momento do ciclo a professora afirma que as crianças percebem sua empolgação e que respondem de forma positiva às aulas. Mas quando ela está desmotivada o rendimento da aula diminui.
Porém, em todo o seu discurso, a professora aponta a família como o principal agente causador do fracasso escolar. Em casa não existe o momento de sentar e estudar...nós tentamos trabalhar na escola a leitura compartilhada. O aluno levava um livro pra casa e lia com os pais. Porém, a maioria dos alunos chegava na aula dizendo que o pai não quis ler com ele.
O aluno precisa ter esse suporte da família. Por que a gente faz a nossa parte, mas e a família? O aluno passa mais tempo onde? A família não aparece na escola pra saber de nada... então não tenho mais o que fazer (Profa. Adriana).
Não existe a rotina, a família não tem o momento da tarefa com a criança. Quando a gente consegue conversar com algum pai eu vejo que ele percebe a pressão. Por isso que eles demoram a aparecer na escola. Eles já têm noção do que está faltando na educação do filho, eles não querem é praticar (Profa. Adriana).
Apesar de suas aulas serem desmotivadas e existir um sentimento constante de abandonar a profissão, a professora afirma que é somente com o acompanhamento da família que as crianças podem desenvolver suas habilidades.
Eu jogo a toalha... você se esforça e não vê a contrapartida. Pro pai poder vir até a escola a gente tem que inventar uma transferência, dizer que se o pai não vier a gente vai transferir o aluno porque não tem acompanhamento. Aí na mesma hora o pai aparece, querendo todos os direitos, e ele vem só te agredir, falando que sabe que o filho precisa estar na escola. Mas a família só aparece nessas horas. E cadê o seu papel? O que você está fazendo pro seu filho continuar na escola? (Profa. Adriana).
Em virtude da falta de acompanhamento familiar a professora se exime de suas responsabilidades de atrair e incentivar esses alunos à aula. Ou seja, ao saber que a família não incentiva e acompanha o aluno, a professora não se empenha, agindo com displicência por acreditar que se dedicar na educação de seus alunos não surtirá efeitos positivos.
Fique com a gente. Em breve teremos mais casos e suas discussões.

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