Postagens

Família, Psicanálise e Sociedade (III)

Imagem
Na postagem anterior destacamos, de maneira bastante sintética, a família no discurso religioso - cristão, para ser mais específico. É oportuno destacar que a Igreja Católica Romana, a partir de 1983, passou a reconhecer, no Código de Direito Canônico,  o papel do amor no matrimônio, dizendo que é uma união para o bem dos esposos, no sentido de uma realização afetiva também e não apenas para procriação. Mais recentemente o Papa Francisco, ao publicar a carta  Amoris Laetitia, passou a tratar da acolhida e acompanhamento das famílias pela Igreja, incluindo definitivamente, em certa medida, os casais em segunda união. Importante mudança conceitual, em consonância com o que já ocorre no seio das famílias.  A partir de agora, trataremos do modo como algumas abordagens psicológicas e até mesmo psicanalíticas consideram a família. Considerações provenientes do campo Psi  O pensamento sistêmico tem como princípio central a família como um sistema, baseado...

Família, Psicanálise e Sociedade II

Imagem
Conforme dito anteriormente, a família vem sofrendo diversas modificações, variadas mutações e assumindo configurações diversas. Os mais variados discursos são suscitados, ora para justificar, ora para defender, ora para tratar a família. Nesta postagem apresentaremos um desses discursos. O discurso religioso  Em uma perspectiva católica a família é o reflexo e a encarnação da comunidade trinitária, sendo assim criada como uma comunidade. Por ser o homem a mais perfeita expressão da constituição divina, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus ele também é ser pessoal e comunitário. Dessa forma, o homem é um ser social, comunitário por excelência que necessita do grupo familiar para crescer e desenvolver. A família é, para esse pensamento, conforme destaca Janice Salomão, algo que “nasce da união interpretativa do amor divino; é a proposta como pequena comunidade de vida e amor. Do amor e da vida que vêm de Deus e leva a Deus”. A abordagem protestante, por outr...

FAMÍLIA, PSICANÁLISE E SOCIEDADE (Parte I)

Imagem
A década de 1960 viu surgir um movimento antifamiliar, marcado pela busca de relações sem repressão, uma tentativa de ruptura com a família nuclear burguesa preconizada como a família ideal. Este movimento pode ser visto como um período de inquietação crônica no grupo familiar. Se por um lado os anos 1960 presenciaram a contestação da família, por outro o tempo presente levanta-se como salvaguarda da tradição familiar, criando teorias, métodos e programas de estruturação e reestruturação deste grupo. A família, de Thomas Faed Da família medieval à família moderna, percebem-se diferenças alarmantes. Na idade média a criança desde muito cedo escapa à sua própria família. Nessa época, portanto, a família não podia alimentar um sentimento de afetividade positiva entre os pais e filhos. Não que não houvesse amor entre pais e filhos, mas antes, como destaca o historiador Phillipe Ariès, “a família era uma sociedade moral e social, mais do que sentimental”. O século XV, por sua vez,...

Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: Pathos e Aparelho Psíquico (Parte IV)

Imagem
Na continuidade de nossa conversa sobre os percursos interdisciplinares, nossa tônica agora se dará em torno do Pathos naquilo em que ele afeta o Aparelho Psíquico. Naif, de Carmézia Emiliano Como se sabe, a palavra “patologia” pertence ao campo semântico da medicina, embora seja estendido a outros campos, como podemos ver na palavra “psicopatologia” ou “sociopatologia”. Seja em um campo ou em outro, a palavra conota sofrimento, desordem, perda de harmonia, disfunção (somática, social ou psíquica).  Do ponto de vista psicanalítico, somos conduzidos a interrogar como Pathos e psiquismo se articulam.  De início, para a Psicanálise, o psiquismo refere-se a uma organização desenvolvida nos humanos para protegê-los contra  ataques internos e externos pelos quais ele passa. É como se o psiquismo fizesse parte do sistema imunológico, garantindo ao sujeito meios para se defender dos “ataques” passionais e pulsionais (internos) e, ainda, dos ataques provenientes d...

Interdisciplinaridade e transdiciplinaridade (III): Paixão, emoção e psicanálise

Imagem
Conforme discutíamos anteriormente acerca das emoções no discurso sob um enfoque psicanalítico e suas implicações nos estudos interdisciplinares, agora começamos, de modo mais específico, a pensar na teorização freudiana sobre a emoção. para Freud,  a emoção permanece na consciência e é despertada por fatores da ordem da superfície do aparelho psíquico. Para o pai da Psicanálise, lidar apenas com lembranças e ideias é permanecer na superfície e somente o afeto tem valor na vida mental. Assim, a emoção só o é de fato quando o sujeito está cônscio dela, ou seja, ela é reconhecida pela consciência. Não existe uma emoção inconsciente, e, se um impulso emocional é sentido de forma inadequada, uma repressão (o recalque) recai sobre a ideia e a separa do afeto. É oportuno esclarecer que, em Psicanálise, o afeto não é recalcado, mas sim sua representação. O que é recalcado são os significantes que se enlaçam ao afeto. De todo modo, existe uma racionalidade das paixões, que aparece de m...

ANGÚSTIA E REALIDADE SOCIAL

Imagem
Estamos em Teresina, terra de Torquato Neto, um município com uma população estimada em 862 mil habitantes, de acordo com o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  (IBGE) em 2018. Teresina é a 21ª maior cidade do Brasil e a 17ª maior capital de estado, sendo a 7ª capital mais populosa e a 7ª capital mais rica do Nordeste. É conhecida por Cidade Verde, codinome dado pelo escritor maranhense Coelho Neto, em virtude de ter ruas e avenidas entremeadas de árvores. De acordo com o IBGE É um município em fase de crescimento sendo considerada uma das mais prósperas cidades brasileiras, destacando-se atualmente no setor de prestação de serviços, comércio intenso, rede de ensino avançada, eventos culturais e esportivos, congressos, indústria têxtil, e um grande complexo e moderno centro médico que atrai pacientes de vários estados. Teresina é a 4ª capital mais desenvolvida do Brasil e a mais desenvolvida da região Nordeste, segundo o Índice FIRJAN (Federação das I...
Imagem
Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: que interlocução possível nos estudos sobre as emoções?   (Parte II)   Luis Ricardo Falero Na continuidade de nossa conversa sobre certos aspectos da emoção, articulando psicanálise e análise do discurso, nosso interesse agora está em compreender sua a lógica e a participação da emoção em nossa vida. Neste sentido, esta postagem pretende discutir, a partir de uma associação entre psicanálise e análise do discurso, certos aspectos da emoção. Como dissemos, a psicanálise é um campo de saber que trabalha com os discursos. Se para ela o inconsciente é tomado como seu objeto de estudo, tal fato só se dá em função deste objeto ser constituído como uma linguagem. Sendo assim, aqui se privilegiará uma abordagem discursiva da emoção e são muitos os discursos que tentam discutir essa noção. 1. Multiplicidade dos discursos sobre a emoção Existe uma infinidade de possibilidades de se discutir a emoção. Podemos tratar d...
Imagem
Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: que interlocução possível nos estudos sobre as emoções?   (Parte I) “Sou esse infeliz comparável aos espelhos que podem refletir mas não podem ver Como eles o meu olho está vazio e como eles habitado pela ausência de ti que o torna cego.” Aragon   Amor e sexo: uma Introdução Amor e sexo: dois significantes que circulam na sociedade e provocam emoções no espectador porque, de certo modo, têm um valor de experiência do vivido e apresentavam-se, seja na literatura, seja na filosofia ou nas artes, como uma etiqueta que, de certo modo, direcionava a existência dos sujeitos. Como se sabe, a literatura desempenhou um importante papel educativo na Antiguidade e tal função durou até finais do século XIX. De alguma maneira, os diversos manuais de amor e sexo circulantes em tempos passados influenciaram as concepções atuais de amor, com repercussões paralelas nos modos discursivos de se amar na contemporaneidade. Uma questão ...
Imagem
O que é a psicanálise? Nascida no limiar entre-séculos, a psicanálise, embora não seja uma visão de mundo, é um importante legado do Ocidente. De acordo com Sigmund Freud, seu fundador, ela pode ser definida a partir de 3 referenciais, sendo que a psicanálise é: Um procedimento para investigação de processos mentais, praticamente inacessíveis de outra forma, especialmente vivências internas e profundas como pensamentos, sentimentos, emoções, fantasias e sonhos; Um método (baseado nessa investigação) para o tratamento das neuroses; Um acúmulo sistemático de conhecimentos sobre a mente, obtidos através desse procedimento... Com a descoberta do inconsciente e as consequências daí advindas, Freud passou a defender a ideia de que a consciência não é senhora em sua própria casa e, para Freud, isso provocou mais uma ferida na concepção idealizada que o ser humano possuía a seu próprio respeito. Para Freud foram 3 GOLPES NO NARCISISMO HUMANO: ž   Golp...

O amor está no ar: a mídia e a produção de um jeito de amar

Imagem
Durante certo tempo, a literatura funcionou como um modo de educação sentimental produzindo uma subjetividade masculina e feminina. Entretanto, tal ação passou a ser de responsabilidade da mídia, o que nos faz pensar em seu estatuto pedagógico. Para nós, a subjetividade constitui-se como um processo de construção dos modos de pensar e agir de um sujeito, consciente e inconscientemente, produzido também socialmente. Relaciona-se com o modo de percepção da realidade circundante, por parte dos sujeitos e refere-se a um processo de construção psicossocial capaz de produzir “mundos” e construir a realidade a partir da interação do sujeito com o contexto que o circunda. Em um mundo interpretado pelas instâncias comunicacionais, as mídias desempenham um importante papel no processo de construção da subjetividade, uma vez que constroem comportamentos, padronizam modelos e definem estilos, além de estabelecerem um processo de interlocução com os sujeitos por elas atingidos. Todos os fe...