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O que é a Psicanálise - Parte II

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Em uma postagem anterior ( https://freudcontemporaneo.blogspot.com/2019/09/o-que-e-apsicanalise-nascida-no-limiar.html ), apresentamos de maneira bastante sucinta o que a psicanálise, com destaque para os três referenciais utilizados pelo próprio Freud para definir o saber elaborado por ele mesmo.   Além disso, expusemos o I modelo do aparelho psíquico, organizado em 1900.   Esse modelo topológico, no entanto, se mostrou suficiente por curto espaço de tempo, em função dos desafios que a clínica psicanalítica apresentava à Freud e aos psicanalistas formados por ele. Como decorrência desses desafios, Freud d esenvolveu e ampliou sua primeira tópica e, como isso, passou a pensar em uma segunda teoria do funcionamento do psiquismo, denominada de II Tópica. “Libere seu Id, pendure seu Ego no cabide” A II Tópica freudiana se popularizou rapidamente, assumiu ares de cultura pop e passou a fazer parte do cinema, do teatro, das artes e das mesas de bar. Desse modo, os termos ...

Família, Psicanálise e Sociedade: referências

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Apresento aqui algumas dicas de leitura sobre a temática que temos discutido até então. São autores dos diversos campos, das diversas áreas do conhecimento que se debruçam, de alguma forma, sobre a problemática da família. Boa leitura e até breve! ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.  ATIENCIA, Jorge. Pessoa, casal e família. In: MALDONADO, Jorge (org.). Fundamentos bíblico-teológicos do casamento e da família. Viçosa, Ultimato: 1996.  BARROS, Maria do Rosário Collier do Rêgo. O mal-estar na família contemporânea: do privado ao público. In: Documentos de trabalho nº 1 para a jornada do dia 25 de abril de 1999. Belo Horizonte: Instituto do Campo Freudiano/ CIEN, 1999.  FREUD, S. a dissolução do complexo de Édipo. In: Edição Standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. V. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1999.  GARCIA, Célio. Clínica do social. Belo Horizonte: Mestrado em Psicolo...

Família, Psicanálise e Sociedade: Alguns pontos finais de reflexão

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O que a Psicanálise tem a dizer à sociedade quando esta a convoca a dar sua contribuição nos problemas familiares, sobretudo quando estes deixam o privado e tornam-se públicos? O que se espera do psicanalista diante da problemática da família?  Jesus Santiago  defende que a Psicanálise pode contribuir para tanto no que diz à interferência “sobre esta última, da função residual de transmissão da lei paterna”. O analista é assim convocado a representar tal função pela reinserção do Nome-do-Pai diante de uma carência de identificação, por exemplo, da criança ao pai na família moderna. O psicanalista atua assim como o Pai Real, como aquele que vai sustentar um limite frente ao gozo. De alguma forma, o analista fará o sujeito pagar – ainda que em palavras – possibilitando-o o trabalho de elaboração de um pró-jeto de vida, da reconstrução dos laços sociais e de sua implicação/ responsabilização pelos seus atos.  Por outro lado, Célio Garcia  propõe a Clínica do ...

Família, Psicanálise e Sociedade: A sociedade

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Vive-se uma época de declínio da função paterna, de um crepúsculo do macho. Em um tempo em que os ideais estão em franca decadência e não se articulam em um discurso formador de laço social, o pai presente na família é demasiadamente desprovido de recursos, estando facilmente privado de suas insígnias simbólicas de o representante da Lei. As transformações presentes na família pós-moderna propiciam o declínio do viril. A presença do personagem paterno não é suficiente para que o Pai Real exista, o que gera conseqüências graves e o aumento da infração entre crianças e adolescentes. Por esse viés, a infração pode ser tomada como um sintoma, como uma forma de responder ao mal-estar que lhe assolapa. Este sintoma-infração é uma “reivindicação de uma lei que regule o sofrimento que daí possa advir” (GOYATÁ, 1999, p.89).  O aumento da violência e a delinquência infanto-juvenil denunciam uma maneira inusitada de organizar-se na teia social, como uma tentativa do sujeito em ocupar...

Família, Psicanálise e Sociedade - “a loucura começa na família”

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A frase que serve de título desta postagem fora enunciada por um usuário do serviço de saúde mental e, de certo modo, traz alguma verdade.  É na trama familiar que há a irrupção da loucura. A clivagem psíquica da qual o sujeito é acometido surge em decorrência da metáfora paterna, pelo processo de forclusão do Nome-do-Pai, o que impede a possibilidade de acesso do sujeito ao simbólico. A forclusão do Nome-do-Pai  “neutraliza o advento do recalque imaginário, provoca (...) o fracasso da metáfora paterna, e compromete gravemente para a criança o acesso ao simbólico, barrando-lhe mesmo esta possibilidade”.  Não havendo um corte na relação dual imaginária da criança com sua mãe, não há possibilidade de circulação da Palavra do Pai e ao lugar que esta, enquanto autoridade, ocupa na promoção da Lei.  Eis o louco! Aquele que não foi castrado. Aquele que negou radicalmente a castração do Outro. “Forcluiu”, por sua vez, o Nome-do-Pai não restando qualquer tra...

Família, psicanálise e sociedade - A posição de Jacques Lacan

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Na postagem anterior, discutimos brevemente como a psicologia compreende a noção de família. Nesta, apresentaremos, de maneira estritamente resumida, a concepção lacaniana da família. Em Os complexos familiares na formação do indivíduo, Lacan argumenta que a família deve ser entendida enquanto um complexo, sendo este algo que “reproduz uma certa realidade do ambiente” (LACAN, 1987; 20). Tais complexos desempenham um papel de organizadores no desenvolvimento psíquico tendo o sujeito consciência do que ele representa. Todavia, um complexo deve ser definido essencialmente como um fator inconsciente tendo uma representação conhecida por Imago, ou seja, “um protótipo inconsciente de personagens que orienta seletivamente a forma como o sujeito apreende o Outro;é elaborado a partir das primeiras relações intersubjetivas reais e fantasísticas com o meio familiar”. Para Lacan, toda formação do sujeito desejante exige a presença do Pai como agente da castração, como aquele que o seu no...

Família, Psicanálise e Sociedade (III)

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Na postagem anterior destacamos, de maneira bastante sintética, a família no discurso religioso - cristão, para ser mais específico. É oportuno destacar que a Igreja Católica Romana, a partir de 1983, passou a reconhecer, no Código de Direito Canônico,  o papel do amor no matrimônio, dizendo que é uma união para o bem dos esposos, no sentido de uma realização afetiva também e não apenas para procriação. Mais recentemente o Papa Francisco, ao publicar a carta  Amoris Laetitia, passou a tratar da acolhida e acompanhamento das famílias pela Igreja, incluindo definitivamente, em certa medida, os casais em segunda união. Importante mudança conceitual, em consonância com o que já ocorre no seio das famílias.  A partir de agora, trataremos do modo como algumas abordagens psicológicas e até mesmo psicanalíticas consideram a família. Considerações provenientes do campo Psi  O pensamento sistêmico tem como princípio central a família como um sistema, baseado...

Família, Psicanálise e Sociedade II

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Conforme dito anteriormente, a família vem sofrendo diversas modificações, variadas mutações e assumindo configurações diversas. Os mais variados discursos são suscitados, ora para justificar, ora para defender, ora para tratar a família. Nesta postagem apresentaremos um desses discursos. O discurso religioso  Em uma perspectiva católica a família é o reflexo e a encarnação da comunidade trinitária, sendo assim criada como uma comunidade. Por ser o homem a mais perfeita expressão da constituição divina, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus ele também é ser pessoal e comunitário. Dessa forma, o homem é um ser social, comunitário por excelência que necessita do grupo familiar para crescer e desenvolver. A família é, para esse pensamento, conforme destaca Janice Salomão, algo que “nasce da união interpretativa do amor divino; é a proposta como pequena comunidade de vida e amor. Do amor e da vida que vêm de Deus e leva a Deus”. A abordagem protestante, por outr...

FAMÍLIA, PSICANÁLISE E SOCIEDADE (Parte I)

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A década de 1960 viu surgir um movimento antifamiliar, marcado pela busca de relações sem repressão, uma tentativa de ruptura com a família nuclear burguesa preconizada como a família ideal. Este movimento pode ser visto como um período de inquietação crônica no grupo familiar. Se por um lado os anos 1960 presenciaram a contestação da família, por outro o tempo presente levanta-se como salvaguarda da tradição familiar, criando teorias, métodos e programas de estruturação e reestruturação deste grupo. A família, de Thomas Faed Da família medieval à família moderna, percebem-se diferenças alarmantes. Na idade média a criança desde muito cedo escapa à sua própria família. Nessa época, portanto, a família não podia alimentar um sentimento de afetividade positiva entre os pais e filhos. Não que não houvesse amor entre pais e filhos, mas antes, como destaca o historiador Phillipe Ariès, “a família era uma sociedade moral e social, mais do que sentimental”. O século XV, por sua vez,...

Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: Pathos e Aparelho Psíquico (Parte IV)

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Na continuidade de nossa conversa sobre os percursos interdisciplinares, nossa tônica agora se dará em torno do Pathos naquilo em que ele afeta o Aparelho Psíquico. Naif, de Carmézia Emiliano Como se sabe, a palavra “patologia” pertence ao campo semântico da medicina, embora seja estendido a outros campos, como podemos ver na palavra “psicopatologia” ou “sociopatologia”. Seja em um campo ou em outro, a palavra conota sofrimento, desordem, perda de harmonia, disfunção (somática, social ou psíquica).  Do ponto de vista psicanalítico, somos conduzidos a interrogar como Pathos e psiquismo se articulam.  De início, para a Psicanálise, o psiquismo refere-se a uma organização desenvolvida nos humanos para protegê-los contra  ataques internos e externos pelos quais ele passa. É como se o psiquismo fizesse parte do sistema imunológico, garantindo ao sujeito meios para se defender dos “ataques” passionais e pulsionais (internos) e, ainda, dos ataques provenientes d...

Interdisciplinaridade e transdiciplinaridade (III): Paixão, emoção e psicanálise

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Conforme discutíamos anteriormente acerca das emoções no discurso sob um enfoque psicanalítico e suas implicações nos estudos interdisciplinares, agora começamos, de modo mais específico, a pensar na teorização freudiana sobre a emoção. para Freud,  a emoção permanece na consciência e é despertada por fatores da ordem da superfície do aparelho psíquico. Para o pai da Psicanálise, lidar apenas com lembranças e ideias é permanecer na superfície e somente o afeto tem valor na vida mental. Assim, a emoção só o é de fato quando o sujeito está cônscio dela, ou seja, ela é reconhecida pela consciência. Não existe uma emoção inconsciente, e, se um impulso emocional é sentido de forma inadequada, uma repressão (o recalque) recai sobre a ideia e a separa do afeto. É oportuno esclarecer que, em Psicanálise, o afeto não é recalcado, mas sim sua representação. O que é recalcado são os significantes que se enlaçam ao afeto. De todo modo, existe uma racionalidade das paixões, que aparece de m...

ANGÚSTIA E REALIDADE SOCIAL

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Estamos em Teresina, terra de Torquato Neto, um município com uma população estimada em 862 mil habitantes, de acordo com o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  (IBGE) em 2018. Teresina é a 21ª maior cidade do Brasil e a 17ª maior capital de estado, sendo a 7ª capital mais populosa e a 7ª capital mais rica do Nordeste. É conhecida por Cidade Verde, codinome dado pelo escritor maranhense Coelho Neto, em virtude de ter ruas e avenidas entremeadas de árvores. De acordo com o IBGE É um município em fase de crescimento sendo considerada uma das mais prósperas cidades brasileiras, destacando-se atualmente no setor de prestação de serviços, comércio intenso, rede de ensino avançada, eventos culturais e esportivos, congressos, indústria têxtil, e um grande complexo e moderno centro médico que atrai pacientes de vários estados. Teresina é a 4ª capital mais desenvolvida do Brasil e a mais desenvolvida da região Nordeste, segundo o Índice FIRJAN (Federação das I...
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Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: que interlocução possível nos estudos sobre as emoções?   (Parte II)   Luis Ricardo Falero Na continuidade de nossa conversa sobre certos aspectos da emoção, articulando psicanálise e análise do discurso, nosso interesse agora está em compreender sua a lógica e a participação da emoção em nossa vida. Neste sentido, esta postagem pretende discutir, a partir de uma associação entre psicanálise e análise do discurso, certos aspectos da emoção. Como dissemos, a psicanálise é um campo de saber que trabalha com os discursos. Se para ela o inconsciente é tomado como seu objeto de estudo, tal fato só se dá em função deste objeto ser constituído como uma linguagem. Sendo assim, aqui se privilegiará uma abordagem discursiva da emoção e são muitos os discursos que tentam discutir essa noção. 1. Multiplicidade dos discursos sobre a emoção Existe uma infinidade de possibilidades de se discutir a emoção. Podemos tratar d...